Saúde

Casos de micobactéria aumentam no ES; vítima de surto ocorrido há 15 anos ainda sofre as consequências

Apesar do aumento nos casos, que já somam 12 neste ano, a Sesa garante que não há um surto em território capixaba

Isabella Arruda

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Pexels

Entre o ano passado e este, já pode ser considerado que houve aumento de casos de micobactéria de crescimento rápido (MCR) no Espírito Santo. Enquanto ao longo de todo o ano de 2021 foram confirmados pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) oito casos, em 2022 já foram contabilizados doze. Apesar do aumento, a pasta garante que não há um surto em território capixaba.

No início desse ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) inspecionou uma clínica particular aqui no estado por conta do aumento nos casos de infecção. Por meio de nota, o órgão informou que os casos aconteceram entre os meses de março e abril. À época, algumas salas foram interditadas, mas o local já se adequou.

Para esclarecer o assunto, a reportagem ouviu a infectologista Melissa Fonseca, que esclareceu que, apesar do tema parecer uma novidade, a micobactéria existe desde a antiguidade.

“As atuais são de ambiente, ficam pelo ar, pela água, e geralmente não causam doenças em humanos. No meu caso, que trabalho com doenças pulmonares, vemos casos em pessoas que estão com a defesa diminuída em virtude de alguma condição, como, por exemplo, sequelas de uma tuberculose, e a bactéria vai se acumulando, formando uma capa em volta do pulmão e vai se proliferando”, explicou.

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Atualmente, no entanto, a micobactéria em humanos vêm associada a procedimentos cirúrgicos, possivelmente devido a fragilidades de higienização de cânulas e outros equipamentos.

Foto: Reprodução TV Vitória

“O maior surto que tivemos no país ocorreu em 2006, quando houve mil casos no Rio de Janeiro e 200 aqui no estado e estiveram relacionados geralmente a cirurgias plásticas. Agora novamente. E para esta bactéria chegar a este ambiente cirúrgico, possivelmente houve falha na limpeza, desinfecção do que é usado no paciente. Ainda mais em se tratando de material canulado usado em alguns procedimentos, que são muito fininhos. Se não forem bem esterilizados, leva resto de gordura de paciente anterior para o próximo. E aí essa bactéria vai se reproduzindo lentamente”, disse.

Como sintomas, a especialista citou febre, tosse com sangue, emagrecimento, dificuldade de cicatrização, a depender do tipo da microbactéria. “No caso de cirurgias mamárias, por exemplo, o normal é tirar os pontos e ficar tudo certo. Com a bactéria, isso não acontece. Se a cicatriz fecha, volta a abrir, fica inchada e sai secreção, algo está errado e é necessário procurar o médico”, acrescentou.

Caso diagnosticado em 2007

À reportagem da TV Vitória, foi relembrado o caso da Kissila Sodré, que foi diagnosticado em 2007, um ano depois que o Espírito Santo enfrentou um surto de contaminação por micobactéria.

“Eu tenho que fazer tratamento de fígado até hoje porque realmente foi muito pesada toda a medicação que tomei para tratar a micobactéria. Meu caso aconteceu após uma internação para tratar apendicite”, disse.

Mesmo com as dores imediatas causadas no local da cicatriz, a promotora de eventos só descobriu que era uma micobactéria dias depois. Pela gravidade, ela ficou cerca de dois anos em tratamento intensivo com injeções de antibiótico.

Foto: Reprodução TV Vitória

“Não tinha um protocolo de tratamento estabelecido na época, fomos cobaias. Então fiquei quase dois anos com antibiótico diariamente”, concluiu.

O que diz a Sesa

Questionada a Secretaria de Saúde (Sesa), foi informado que não há surto de micobactéria no Espírito Santo e que o estado realiza vigilância ativa de casos alinhado ao sistema nacional durante todo o ano. Em nota, a pasta afirmou que é feito um monitoramento contínuo, que faz parte das ações de rotina da Vigilância Sanitária estadual. Confira na integralidade:

“As equipes realizam inspeção e análise de notificações nos estabelecimentos com monitoramento das práticas de prevenção e controle de infecção, e acompanhamento dos indicadores de resultados. A atuação das instituições também é acompanhada para que as adequações estabelecidas sejam adotadas. É importante ressaltar que eventualmente a micobactéria é identificada em infecções cirúrgicas, não só no estado como em todo o país.

No Espírito Santo, em 2019, foram 11 casos confirmados de MCR, em 2020 também 11 casos, em 2021 foram 08 pessoas positivadas para a micobactéria, e neste ano 12 casos positivos. De acordo com a legislação vigente, a responsabilidade do tratamento e acompanhamento do paciente é da clínica. A vigilância Sanitária faz a gestão do risco com objetivo de controlar o surto e garantir o restabelecimento da segurança do procedimento, além de cobrar do estabelecimento de saúde o suporte ao paciente.

Em inspeções realizadas pela Vigilância Sanitária neste ano, foi identificado aumento de casos de MCR em uma clínica de estética privada nos meses de março e abril. Diante disso, medidas para controle do evento infeccioso foram adotadas, como revisão dos processos de trabalho (incluindo materiais cirúrgicos) e fluxos de pacientes, para garantia das práticas de prevenção estabelecidas.

O estabelecimento onde os casos foram registrados realizou adequações e os casos foram controlados, porém, por algumas inadequações verificadas em inspeção sanitária, teve as cirurgias de mamã suspensas até completa adequação. Foram aplicados autos de infração, ainda em tramitação, e realizadas interdições parciais. Sempre que necessário, medidas são adotadas. Este ano houve interdição de uma sala cirúrgica no mês de julho e interdição de um dos procedimentos cirúrgicos em agosto. A Sesa lembra que qualquer procedimento invasivo oferece riscos, por isso é necessário que o paciente converse claramente com seu médico para obter informações precisas sobre possíveis complicações."

* Com informações da repórter Alessandra Ximenes para a TV Vitória | RecordTV

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