Saúde

Primeiro implante de coração artificial é realizado no ES

Silvestre Pereira da Silva sofreu três infartos e a única possibilidade de continuar vivo era fazer o implante

Larissa Agnez

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução

Silvestre Pereira da Silva foi o primeiro a receber um implante de coração artificial no Espírito Santo. O dispositivo chegou ao Brasil há cerca de um ano, e seis pessoas já precisaram do procedimento de implantação no país. O capixaba, de 56 anos, precisou do novo órgão após sofrer três infartos e apresentar insuficiência cardíaca grave.

Para salvar a vida de Silvestre, médicos do Hospital Metropolitano, do grupo Meridional, recorreram ao implante do dispositivo que é considerado o mais moderno do mundo, conhecido como HeartMate III. O aparelho foi aprovado dem 2017 pela Food and Druga Administration (FDA), agência reguladora americana. 

De acordo com a cardiologista Fernanda Bento, que acompanhou Silvestre desde o início do procedimento, o HeartMate III permitiu que Silvestre deixasse o quadro de insuficiência cardíaca avançada grave, com um coração que não resistia mais, para um paciente com qualidade de vida totalmente recuperada e com capacidade de voltar a fazer tudo normalmente, inclusive esportes.

Na tarde desta quarta-feira (14), o transplantado Silvestre Pereira, concedeu uma coletiva no Hospital Metropolitano e falou sobre sua recuperação. "Não sinto nenhum desconforto. O que ainda estou recuperando e em relação as consequências de não ter tratado meu problema na hora certa e só ter procurado o hospital quando estava em estado grave. Mas, no geral a cicatrização foi rápida e hoje estou vivendo tranquilo e bem com isso", comentou Pereira. 
Foto: THAMIRIS GUIDONI
Silvestre Pereira durante a coletiva. 

O coração artificial ainda possui um sistema inteligente que alerta o paciente, por meio de um dispositivo externo que informa sobre os cuidados necessários. "Quando eu fico muito tempo sem tomar água, comer ou é necessário ir ao hospital ele me avisa", explicou Pereira.

O paciente comenta que ainda está sob observações, mas que logo poderá retomar as atividades normais. "Vou poder andar sozinho, até mesmo pedalar de bicicleta, vou voltar a ter uma rotina normal, sem problemas. Eu estou muito contente com essa nova vida, com essa nova oportunidade. Eu só tenho a agradecer a Deus", finalizou.

Procedimento no Sistema Único de Saúde 

A Secretaria de Estado da Saúde, informou na tarde desta quarta-feira (14), que a implantação do procedimento no SUS depende da definição do Ministério da Saúde, não havendo previsão do fornecimento de transplantes artificiais na rede pública de saúde. 

Transplantes de órgãos no Espírito Santo 

No ano passado, foram realizados no Estado 486 transplantes, incluindo córnea, rim, fígado e coração. Hoje, 936 pessoas, entre adultos e crianças precisam de um rim, 73 precisam da doação de córnea, 44 de um fígado e cinco de um coração. Segundo os dados da ABTO, até junho deste ano, no Espírito Santo, 66 pessoas não resistiram à espera por um transplante e acabaram morrendo.

No Brasil 

Dados do Ministério da Saúde mostram que em 2018 o país deve realizar 26.400 transplantes. Desse total, 8.690 serão órgãos sólidos (coração, fígado, pâncreas, pulmão, rim e pâncreas rim), registrando recorde em comparação aos últimos oito anos. Na projeção para todo o ano de 2018, os transplantes de córnea, no entanto, apontam redução. Esse é reflexo da redução da lista de espera em alguns estados, por exemplo; Amazonas, Ceará, Goiás, Pernambuco e Paraná tiveram desempenho médio de transplantes de córnea, superior ao da média de pacientes na lista de espera, nos últimos três meses, portanto, são considerados na situação de lista zerada. 

Entenda o caso

Quando Silvestre chegou ao hospital, no dia 25 de junho de 2018, sentindo fortes dores no peito, recebeu o diagnóstico de infarto e foi submetido a um cateterismo. O coração já havia sofrido infarto duas vezes anteriormente e, desta vez, piorou após o novo infarto. Silvestre continuou tendo fortes dores e falta de ar, mesmo após o cateterismo. Foi quando passou a contar com um balão intra-aórtico – um dispositivo de assistência circulatória mecânica temporária – para facilitar a função de bomba do coração.

“O objetivo era 'descansar' e recuperar o coração após o infarto. Mas, mesmo após a retirada deste balão intra-aórtico e com uso de medicações, o coração de Silvestre não respondia e estava entrando em falência, com disfunções nos dois lados”, explicou a cardiologista Fernanda Bento.

A condição indicava necessidade de um transplante com urgência. No entanto, durante os exames pré-operatórios, foi descoberta uma complicação que impedia Silvestre de receber um transplante convencional - a hiperresistência pulmonar fixa.

“Esse quadro de alta pressão no pulmão iria, mesmo após o transplante de coração, sobrecarregar o novo órgão que também entraria em falência. Foi quando decidimos pelo coração artificial, que funciona bem independente da pressão pulmonar e que ainda pode reverter esta complicação da hipertenção”, explica Fernanda. “Enquanto aguardava pelo implante do coração artificial, Silvestre teve nova parada cardíaca e precisou, mais uma vez, usar o balão intra-aórtico”, disse a cardiologista.

O implante foi realizado no dia 14 de setembro de 2018, pelas equipes de cardiologia e cirurgia vascular do Hospital Metropolitano, chefiadas, respectivamente, pela Dra. Fátima Cristina Pedroti e pelo Dr. Schariff Moysés.

A expectativa era grande em torno do sucesso do procedimento e com o passar dos dias, a equipe médica estava voltada para boa recuperação e reabilitação de Silvestre. Agora, o paciente segue com condições de levar uma vida normal e de voltar a praticar as atividades que fazia antes. Mas conta também, com um “controle” em mãos para monitorar e garantir que seu novo coração tenha perfeito estado de funcionamento. 

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