ARTIGO IBEF

Por que, apesar de todos os avanços, ainda não extinguimos a pobreza?

No ritmo atual, demoraria cerca de 230 anos para que ela fosse extinta do planeta, enquanto 10 anos seriam suficientes para o mundo ter o seu primeiro trilionário

IBEF-ES

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação
*Artigo escrito por Cintia Dias, jornalista, publicitária, mestre em administração e especialista em comunicação, sustentabilidade e marketing. Membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de ESG do IBEF-ES.

Os avanços da humanidade são inquestionáveis: o homem inventou a penicilina e exterminou infecções e doenças que eram os maiores causadores de mortes da sociedade; chegou ao espaço e desbravou novos horizontes; criou o computador e a internet e alargou as fronteiras das nações; clonou o primeiro mamífero a partir de uma célula adulta e ampliou os limites da ciência. 

Esses são apenas alguns exemplos de como a mente humana é capaz de lidar com problemas complexos e resolvê-los com soluções inovadoras, como fez anteriormente com a invenção da luz elétrica, do telefone, do automóvel, do avião, dos membros biônicos e do transplante de órgãos. 

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Somos mais prósperos, não há dúvida: a renda per capita atual é dez vezes maior que em 1850; a economia global é 250 vezes maior que antes da Revolução Industrial; a expectativa de vida subiu de 64 anos em 1990 para 70 anos em 2012 e 73 anos em 2019, mais do que o dobro do indicador em 1900. 

Se, há 50 anos, uma em cada cinco crianças morria antes de completar cinco anos, em 2022 houve uma queda histórica de 51% neste índice.

No entanto, um problema ainda aflige a humanidade: a pobreza. Embora os índices tenham melhorado significativamente – em 1820 a pobreza era a realidade de 94 a cada cem pessoas, número que caiu para dez em cada cem –, é inadmissível que os avanços não tenham sido suficientes para que a pobreza virasse item de museu ou páginas de uma triste fase da história.

A dúvida que fica é sobre o motivo pelo qual, apesar  mundo estar mais próspero do que nunca e com riqueza suficiente para extinguir este mal, milhões de pessoas ainda vivem na pobreza. 

No ritmo atual, demoraria cerca de 230 anos para que a pobreza fosse extinta do planeta, enquanto 10 anos seriam suficientes para o mundo ter o seu primeiro trilionário, segundo o relatório Desigualdade da Oxfam.

Não é a falta de recursos que impede o avanço nesta pauta. Um estudo do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS) aponta que erradicar a pobreza no Brasil demandaria R$ 110 bilhões por ano, ou R$ 8,5 bilhões por mês. Só o fundo eleitoral para 2024 consumirá, dos cofres públicos, o montante de R$ 4,9 bilhões. 

O que é necessário é estabelecer prioridades e rever gastos em outras áreas, a fim de destiná-los a uma política que compreenda metas claras de redução destes indicadores no Brasil.

É necessário, ainda, que todos demonstrem doses de indignação: a pobreza deve ser vista como um fato inaceitável, que deveria ser registrada apenas em ciclos econômicos recessivos. 

Não se deveria aceitar pessoas vivendo com uma renda de US$ 1,90 por dia (ou R$ 9,50, que classifica a extrema pobreza) ou com US$ 5,50 por dia (R$ 27,50, em situação de pobreza). 

Para se ter uma ideia do cenário brasileiro, a Oxfam mostra que 63% da riqueza no Brasil está nas mãos de 1% da população, enquanto os 50% mais pobres detêm apenas 2% do patrimônio do país. 

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Deveria ser alvo de reflexão o fato de que a fortuna de 252 homens seja maior do que a riqueza combinada de todas as mulheres e meninas da África, América Latina e Caribe: 1 bilhão de pessoas. 

Desde 1995, o 1% mais rico acumulou quase 20 vezes mais riqueza global do que os 50% mais pobres da humanidade.

Enquanto esses indicadores não incomodarem a cada um de nós e não dedicarmos não só a inteligência humana, mas também a empatia e a união em prol da solução deste problema, seremos obrigados a conviver com pobreza, desigualdade e limitações de crescimento econômico e social que essa realidade impõe. 

A atriz britânica Emma Watson fez uma reflexão que é pertinente: “Se não for eu, quem? Se não for agora, quando?” Que a população seja capaz de se indignar – e transformar – a realidade. 

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