Mais de 120 mil moradores podem ficar sem água em Colatina a partir deste final de semana

Neste fim de semana, a lama deve interromper o abastecimento de água nas cidades capixabas de Baixo Gandu e Colatina. De acordo com o  secretário do Desenvolvimento do Estado, João Coser, só em Colatina cerca de 120 mil famílias deverão ser afetadas.

“Nosso foco é Colatina, que tem mais de 120 mil habitantes, Com a chegada da lama, todo o abastecimento vai ser suspenso. A cidade fica incapacitada de captar água no Rio Doce”,explica.

Segundo ele, o governo trabalha com alternativas para ficar “semanas sem abastecimento. Agora, queremos garantir abastecimento paras as pessoas. Temos quantidade de carros para abastecimento. E vamos colocar algumas caixas d'água em pontos da cidade”, acrescentou Coser.

O fotógrafo e ambientalista Leonardo Merçon, contou que após a chegada da lama, a água do Rio Doce “parece um achocolatado com cheiro de ferrugem”. Ele coordena a organização não governamental Últimos Refúgios, que trabalha com preservação do meio ambiente, e foi a Governador Valares ver e fotografar a situação.

Veja as imagens feitas por Merçon!

“É possível ver peixes morrendo asfixiados, camarões indo para as pedras quentes para fugir da lama”, disse. “Todos os seres vivos do Rio Doce que precisam da água para respirar morreram”, acrescentou.  

Operação Arca de Noé retira peixes do Rio Doce no ES para evitar contaminação!

Segundo Merçon, muitos moradores da região não têm a dimensão do que está ocorrendo. “As pessoas estão comendo esses peixes mortos, que não se sabe se têm doenças. Outros estão recolhendo para vender. Mas muita gente já reclama que os peixes começam a ter mau cheiro e diz que a situação está ficando insuportável. Ninguém sabe quando vai se normalizar”.

Governador Valadores

Em Governador Valadares (MG), cidade mais afetada pela interrupção no abastecimento de água depois que a lama proveniente do rompimento das barragens em Mariana chegou ao Rio Doce, a população faz filas para comprar água mineral e reclama da falta de uma solução para o problema.

A cidade, que fica a 300 quilômetros do município onde as barragens se romperam, tem 280 mil habitantes e a água precisou ser cortada após o fluxo de lama com rejeitos de mineração atingir o rio, que é a principal fonte de abastecimento local. O município decretou estado de calamidade pública.

Moradora de Governador Valadares, a dona de casa Denise Cruz comprou dez galões de água, cada um com 5 litros, para as necessidades básicas da família.

“Fiquei mais de duas horas esperando para comprar. Tive muita sorte. Essa água vai dar apenas para beber e cozinhar. A gente está sem rumo, sem saber quando vai ter água normal de novo".

Protesto

Nesta sexta-feira, o grupo Frente Capixaba de Lutas, que é formado por movimentos sociais e sindicais, realizou um protesto na portaria da Vale, em Carapina, Serra. Cobertos de lama e com cartazes, os universitários culpavam a mineradora pelo rompimento das barragens que aconteceu no último dia 5, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, Minas Gerais. 

Já em Governador Valadares, moradores protestaram contra a Vale, que junto com a mineradora BHP controla a Samarco, responsável pelas barragens que se romperam em Mariana. Eles bloquearam a linha férrea usada pela mineradora, pedindo uma solução para a falta de abastecimento.

A prefeitura de Governador Valadares informou que fez um projeto para captar água de outros rios. Enquanto isso não ocorre, 38 caminhões-pipa percorrem cidades da região, para encher os tanques, e retornam a Valadares para, prioritariamente, abastecer hospitais e estabelecimentos como escolas e creches.

A Samarco informou que enviou ao município mais de 2,5 milhões litros de água para ajudar no abastecimento, além de 13 mil litros de água potável, e que a partir de hoje enviará 2,4 milhões de litros por dia.