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Morte de adolescente em ambulância: advogado nega omissão de médicas

O secretário Estadual de Saúde, Nésio Fernandes, afirmou que as médicas do pronto-socorro foram negligentes ao se recusarem a atender o adolescente de 16 anos, que morreu em uma ambulância

Foto: TV Vitória

O advogado das médicas envolvida no caso da morte do adolescente Kevinn Belo Tome, 16 anos, negou que elas tenham sido negligentes e omissas. Ele morreu após esperar por leito durante quatro horas, dentro de uma ambulância, na porta do Hospital Infantil de Vila Velha (Himaba).

Jovacy Peter Filho, que defende as médicas, afirmou que elas, de fato, não foram até onde Kevin estava porque estavam cuidando de outros oito pacientes na emergência do hospital. Os nomes das médicas não foram divulgados.

Ele disse que havia um leito reservado para Kevin, mas era de enfermaria e não de UTI, como ele precisava.

"Essas duas profissionais, junto à equipe de enfermeiros e auxiliares, eram diretamente responsáveis por cinco leitos de pacientes graves, ou seja, pacientes intubados. Elas estavam responsáveis por oito pacientes. O Kevinn chega por volta da meia-noite e a primeira visualização que uma das médicas tem do Kevinn já é no corredor do hospital. Então já cai por terra a informação de que sequer ele adentrou ao serviço. Uma outra questão que se coloca é o porquê elas não prestaram atendimento, se elas foram omissas. Omissão só existe quando se pode agir de maneira diversa. Se tem oito pacientes e não pode recepcionar esse paciente, como podemos dizer que ela negou atendimento?", afirmou.
Foto: Reprodução

O advogado confirmou que havia um leito de UTI que poderia ser usado para o atendimento de Kevinn, mas ele estava reservado para outro paciente, que estaria vindo de São Mateus, mas que só chegou depois que Kevin morreu.

"Vagas existiam, mas não na categoria que esse paciente precisava. O que se tem conhecimento é que havia uma vaga na UTI. Porém, essa vaga já estaria reservada para um paciente que já estaria vindo de uma cidade do interior. Mas esse paciente só veio a chegar ao Himaba após a morte do Kevinn. A primeira explicação que a secretaria precisa fornecer é por qual motivo essa vaga não foi destinada ao Kevinn. Segunda informação importante é porque a vaga destinada ao Kevinn foi de enfermaria", questionou.

Sesa apontou omissão e negligência por parte das médicas

O secretário Estadual de Saúde, Nésio Fernandes, afirmou, nesta segunda-feira (02), que as médicas do pronto-socorro do Hospital Infantil de Vila Velha foram negligentes ao se recusarem a atender o adolescente.

"Houve uma omissão de socorro, uma negligência grave, uma falta grave. Não houve falha da administração. Houve, sim, uma falha grave das profissionais assistentes em não acolher o paciente", afirmou o secretário.

De acordo com Nésio, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Himaba tinha condições de acolher o jovem, se o paciente tivesse sido atendido pelo Pronto Atendimento no momento em que chegou na unidade.

"Os fatos e as responsabilidades estão muito bem delimitadas no âmbito das responsabilidades das profissionais no pronto-socorro. O conjunto hospitalar se mobilizou para atender o paciente e todos os recursos disponíveis que estavam garantidos ao paciente estavam colocados no hospital", disse.

Nésio afirmou que no trajeto entre Cachoeiro de Itapemirim e o hospital, em Vila Velha, o adolescente recebeu o atendimento correto. Segundo ele, o hospital referência para o tratamento seria o Himaba.

As médicas foram afastadas e a direção do hospital abriu sindicância para apurar a conduta das profissionais. O caso também está sendo investigado pela Polícia Civil.

"Há uma falta grave muito bem delimitada da ação das profissionais. Elas não atuam mais na unidade. Agora, a condução da investigação é realizada pela Polícia Civil."

O corpo de Kevinn foi enterrado no domingo (1°) em um cemitério da cidade de Cachoeiro. O adolescente sonhava ser jogador de futebol e era filho único.

Associação Médica do ES repudia postura da Sesa

Já a Associação Médica do Espírito Santo (Ames) divulgou uma nota nesta segunda-feira (2), repudiando a postura da Sesa, "por realizar pré-julgamento dos médicos envolvidos no caso".

De acordo com a Ames, "o afastamento sumário sem processo administrativo disciplinar para apuração dos fatos, precocemente feita pela Sesa, denota uma tentativa de retirar de si qualquer responsabilidade sobre o caso".

Polícia Civil recolheu documentos e imagens de videomonitoramento

A Polícia Civil informou que duas ocorrências foram registradas para apuração da morte do adolescente Kevinn Belo Tomé da Silva. Uma por parte da família da vítima e outra pela direção do Himaba. 

Imediatamente após o registro, a Delegacia Regional de Vitória deu início às diligências, com acompanhamento de perto do delegado-geral, José Darcy Arruda. A polícia também informou que ainda no sábado (30), o diretor do Hospital prestou depoimento, assim como outras duas funcionárias. 

"No domingo, a Polícia Civil coletou o depoimento da enfermeira chefe que estava de plantão no dia do fato e da médica que compunha a equipe da ambulância em que o menino estava. A Polícia Civil também recolheu documentos e imagens de videomonitoramento."

A investigação segue em andamento na Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha. 

A PC acrescenta que as médicas que estavam no plantão já foram identificadas e prestarão depoimento em momento oportuno. 

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