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Caso Milena Gottardi: irmão de médica vai prestar depoimento durante júri dos acusados

Douglas Gottardi Tonini vai prestar depoimento no lugar da mãe, Zilca, a pedido do MPES, que alegou motivos de saúde

Rodrigo Araújo

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação

O irmão da médica Milena Gottardi, assassinada em setembro de 2017 no estacionamento do Hospital das Clínicas, em Vitória, prestará depoimento durante o julgamento dos seis réus acusados de participação no crime. 

O júri será realizado a partir das 9 horas da próxima segunda-feira (23), no Fórum Criminal de Vitória, no Centro da capital.

A princípio, seria ouvida a mãe de Milena, Zilca Maria Gottardi Tonini. No entanto, por motivos de saúde, a Justiça autorizou que ela fosse substituída pelo inspetor de solda Douglas Gottardi Tonini, irmão da vítima.

Foto: Divulgação
Douglas Gottardi vai prestar depoimento no lugar da mãe, Zilca, a pedido do MPES

A autorização é do juiz Marcos Pereira Sanches, da 1ª Vara Criminal de Vitória, que vai presidir o júri. Ele acatou um pedido feito pelo Ministério Público Estadual (MPES), que apresentou um laudo médico comprovando a situação clínica da mãe de Milena Gottardi.

Em janeiro deste ano, o magistrado havia acatado a solicitação da defesa de um dos réus do processo e suspendeu a participação de Douglas no julgamento, alegando que ele já atuava como assistente de acusação, junto com o MPES.

Douglas Gottardi é quem detém a guarda definitiva das duas filhas que Milena teve com Hilário Frasson. Eles moram em Fundão. 

A guarda foi concedida pela Justiça em setembro de 2020. Atualmente, a filha mais velha tem 13 anos e a mais nova, sete.

Relembre o assassinato de Milena Gottardi

O assassinato de Milena Gottardi aconteceu na tarde do dia 14 de setembro de 2017 e ganhou grande repercussão no Espírito Santo. A vítima atuava como pediatra oncológica no Hospital das Clínicas, em Maruípe, Vitória. 

Quando saía de um plantão, acompanhada de uma amiga, a médica foi abordada, no estacionamento do hospital, por um homem armado, que chegou a anunciar um assalto. 

Milena e a amiga chegaram a entregar os pertences ao suposto assaltante. Quando elas se dirigiam ao carro, o criminoso atirou três vezes em direção à pediatra, atingindo a mesma na cabeça e na perna, e fugindo posteriormente. A médica foi socorrida e internada em um hospital, mas morreu no dia seguinte.

A Polícia Civil agiu rápido e, dois dias após a médica ser baleada, dois suspeitos de envolvimento no crime foram detidos: Dionathas Alves Vieira, acusado de ser o executor do crime, e Bruno Rodrigues Broetto, apontado pela polícia como o responsável por conseguir a moto utilizada por Dionathas no dia do assassinato. 

A prisão dos suspeitos aconteceu praticamente ao mesmo tempo em que o corpo de Milena era sepultado em Fundão, município onde a médica nasceu e foi criada e onde grande parte de sua família ainda mora.

Com a prisão da dupla, a polícia começou a desvendar o crime e provar que Milena não havia sido vítima de um latrocínio — como fez parecer o autor dos disparos — mas sim de um crime de mando. Faltava, no entanto, chegar aos mentores do assassinato.

Para conseguir as provas necessárias, a Polícia Civil conseguiu, junto à Justiça, que as investigações corressem sob sigilo. Isso porque o principal suspeito de encomendar a morte de Milena era o ex-marido dela, o então policial civil Hilário Antônio Fiorot Frasson, que atuava como assessor técnico do gabinete do Chefe da PC, Guilherme Daré.

A ideia da Secretaria de Estado da Justiça (Sesp) era justamente impedir que Hilário tivesse acesso às provas obtidas pela Delegacia Especializada em Homicídios Contra a Mulher (DHPM), que conduzia o inquérito.

A prisão de Hilário aconteceu no dia 21 de setembro, exatamente uma semana depois do assassinato de Milena. Ele foi preso na Chefatura da Polícia Civil e encaminhado para um anexo da Delegacia de Novo México, em Vila Velha, onde ficam os policiais civis que são presos.

Foto: Reprodução

Mais cedo, no mesmo dia, a polícia havia prendido o pai dele, Esperidião Carlos Frasson, apontado como o outro mandante do crime, e Valcir da Silva Dias, acusado de ser um dos intermediadores do assassinato

Segundo a polícia, o outro intermediador foi Hermenegildo Palauro Filho, o Judinho, que foi preso no dia 25 de setembro

Todos os seis suspeitos de envolvimento no assassinato de Milena Gottardi foram autuados pela Polícia Civil, que concluiu o inquérito referente ao crime no dia 18 de outubro. O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público Estadual (MPES), que, no dia 27 de outubro de 2017, denunciou os seis indiciados à Justiça

A denúncia foi aceita no dia 1º de novembro daquele ano pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Vitória, Marcos Pereira Sanches, que decretou a prisão preventiva dos seis acusados — que até então cumpriam prisão temporária. Caso sejam condenados, eles poderão pegar até 30 anos de prisão

Hilário, Esperidião, Valcir, Hermenegildo e Dionathas foram denunciados pelos crimes de homicídio qualificado, feminicídio e fraude processual. Já Bruno responde pelo crime de feminicídio.

Entenda a participação de cada réu no caso

As investigações concluíram que Hilário e Esperidião encomendaram o assassinato de Milena Gottardi por não aceitarem o fim do casamento entre ela e o então policial civil. Para isso, eles teriam contratado Valcir e Hermenegildo para dar suporte ao crime e encontrar um executor.

Ainda segundo a polícia, Dionathas Alves foi o escolhido para executar o "serviço" — como os envolvidos se referiam ao assassinato da médica. Para isso, ele receberia uma recompensa de R$ 2 mil. 

Foto: Arte/ Júlio Lopes

Dionathas teria usado uma moto, roubada pelo cunhado Bruno, para seguir de Fundão até Vitória e matar Milena.

O veículo foi apreendido em uma fazenda em Fundão, no mesmo dia em que Dionathas e Bruno foram presos. O executor confesso do assassinato disse à polícia que o crime foi planejado durante cerca de 25 dias.

O inquérito, no entanto, aponta que o planejamento do homicídio começou pelo menos dois meses antes do crime. Segundo as investigações, os seis acusados de envolvimento na morte de Milena Gottardi trocaram 1.230 ligações e formaram uma rede de comunicação antes e após o crime. 

Depoimentos de quatro suspeitos de envolvimento do crime detalharam como foi o planejamento do assassinato da médica.

De acordo com informações da Secretaria de Estado da Justiça, Hilário Frasson está preso na Penitenciária de Segurança Média I; Esperidião Frasson, no Centro de Detenção Provisória de Viana II; Valcir, no Centro de Detenção Provisória de Vila Velha; Hermenegildo, no Centro de Detenção Provisória da Serra; e Dionathas e Bruno, no Centro de Detenção Provisória de Guarapari.

Hilário é expulso da Polícia Civil

Hilário Frasson foi oficialmente expulso da Polícia Civil do Espírito Santo em junho do ano passado. A decisão foi confirmada pelo Conselho Estadual de Correição (Consecor), presidido pela Secretaria de Controle e Transparência do Estado (Secont).

O Consecor, última instância administrativa no Estado para servidores civis e militares, manteve, após análise do processo, a decisão do Conselho de Polícia Civil, que decidiu pela expulsão de Hilário Frasson dos quadros da corporação, no dia 25 de setembro de 2019.

Por causa da acusação de ser um dos mandantes do assassinato da médica, Hilário recebeu a pena máxima prevista do Estatuto da Polícia Civil, que é a demissão. Além disso, ele fica impedido de exercer outro cargo ou função por dez anos.

A demissão de Hilário é resultado do julgamento do Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) que o servidor respondia, referente ao homicídio de Milena Gottardi.

O que dizem as defesas dos réus

Sobre o julgamento que terá início na próxima segunda-feira, o advogado Leonardo Gagno, responsável pela defesa de Hilário Frasson, destacou que está confiante de que a justiça será feita. 

"Durante o júri, a defesa terá a oportunidade de apresentar provas importantes, aclarar os fatos e demonstrar que a imagem do Hilário foi distorcida pela acusação", afirmou.

Já o advogado Alexandre Lyra Trancoso, responsável pela defesa de Valcir da Silva Dias, disse que, no momento, prefere não dar declarações sobre o júri.

As defesas de Esperidião Carlos Frasson, Hermenegildo Palauro Filho, Dionathas Alves Vieira e Bruno Rodrigues Broetto foram procuradas pela reportagem, mas até o momento, não responderam aos questionamentos.

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