Polícia

Comoção em velório de jovem esfaqueado e morto no Terminal de Vila Velha

Próximo ao caixão estavam quadros que foram pintados pelo estudante. Ele cursava artes visuais na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)

O velório aconteceu em uma igreja de Vitória Foto: Reprodução Facebook

Amigos e parentes do jovem Saulo Tavares, de 24 anos, que morreu após ser esfaqueado no terminal de Vila Velha, estiveram no auditório da Igreja em Vitória, em Santa Luiza, para prestar solidariedade aos familiares. O local foi o escolhido pela família para o velório do jovem. 

Próximo ao caixão estavam quadros que foram pintados pelo estudante. Ele cursava artes visuais na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). O corpo de Saulo será enterrado às 16 horas no Cemitério Parque da Paz. 

O outro jovem, Jhony Lima Fernandes, de 19 anos, que também foi ferido no mesmo coletivo, foi velado na casa onde morava com a família, no bairro Vista da Serra. O local e o horário do sepultamento dele não foram divulgados.

Na manhã da última quarta-feira (4) Saulo foi a uma consulta, em Vila Velha. Ele morava em Jardim Camburi, em Vitória. Para voltar para casa embarcou no ônibus 508, que saiu do Terminal de Itaparica com destino a Laranjeiras. Durante uma parada no Terminal Vila Velha, ele foi brutalmente agredido por um passageiro que estava com uma faca. 

A vítima chegou a ser socorrida para o Hospital Antônio Bezerra de Farias, mas não resistiu. Jhonny estava no mesmo coletivo. Segundo testemunhas, ele estava sentado perto de Saulo e também foi esfaqueado. Ele morreu na hora. 

O agressor, identificado como José Carlos Rodrigues, de 63 anos, foi espancado por passageiros. Ele foi levado para o Hospital São Lucas, em Vitória, onde permanece internado. O motivo do crime ainda é desconhecido. As famílias dos jovena estão inconformadas.

O crime

Jhony e Saulo foram esfaqueados dentro de um ônibus do Transcol que faz a linha 508 (Terminal Laranjeiras - Terminal Itaparica), no momento em que o coletivo entrava no Terminal de Vila Velha.

De acordo com policias militares que atenderam a ocorrência, Jhony morreu na hora. Já Saulo foi encaminhado para o Hospital Antônio Bezerra de Farias, mas morreu ao dar entrada na unidade.

Ainda segundo os militares, o agressor apresentava sinais de embriaguez. Após ser agredido, ele foi levado para o Hospital São Lucas, onde está internado sob escolta policial. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), o estado de saúde dele é estável.

A Polícia Militar informou que o caso está sob investigação da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e o delegado titular da Delegacia de Crimes Contra à Vida (DCCV) de Vila Velha, Ricardo Almeida, dará continuidade às investigações. Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), o delegado já começou a tomar depoimentos de testemunhas na DHPP.

Vítimas não se conheciam

Jhony (esquerda) e Saulo foram mortos a facadas dentro de um ônibus da linha 508 do Transcol Foto: Reprodução Facebook

Saulo Ferreira Tavares era morador de Jardim Camburi, em Vitória, recém-formado em flauta doce pela Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames), estudante do sétimo período do curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e estagiário na galeria de artes da universidade. Segundo familiares, era um amante das artes e apaixonado pela vida.

"Não tenho palavras para explicar o que era meu filho. Era um filho obediente, estudioso, temente ao Senhor. As pessoas que viviam ao redor do Saulo eram atraídas pelo amor, pela arte que ele amava. Meu filho era um artista. Era uma pessoa do Senhor, tanto que o Senhor o recolheu", relatou a mãe de Saulo, a fisioterapeuta Sueli Tavares. 

Já Jhony Lima Fernandes era filho adotivo de uma família com mais cinco irmãos, morava em Vista da Serra I, na Serra, e trabalhava como vendedor. Amigos e familiares afirmam que ele era alegre e festivo.

"Ele foi uma vez à minha casa e, como sabia que minha mãe já tinha filhos do coração, então ele disse: 'mãe, você podia me adotar'. A partir daí começaram os contatos, ele passou uns dias na minha casa e foi rolando o processo de adoção. Sempre que a gente se juntava era uma festa. Uma festa que foi encerrada e que não vai acontecer mais, porque tiraram um pedaço da nossa família", lamentou uma das irmãs de Jhony, a técnica de enfermagem Ingrid Rodrigues Monteiro, de 30 anos. 

Segundo parentes e amigos, Jhony e Saulo não se conheciam. Mas o destino quis que os dois estivessem no mesmo lugar, na mesma hora e que fossem vítimas da mesma tragédia. Jhony tinha saído de casa, logo cedo, para mais um dia de trabalho em um shopping de Vila Velha. Já Saulo voltava para casa depois de uma consulta com o psicólogo.

Revolta nas redes sociais

Amigos e parentes dos dois jovens manifestaram nas redes sociais sua tristeza e revolta com o crime. Eles deixaram mensagens nos perfis de Jhony e Saulo no Facebook, demonstrando pesar aos familiares com o ocorrido e indignação com a violência.

Um dos amigos de Jhony, Edmilson Ribriro Santana, que seria seu parceiro, fez diversas declarações ao rapaz, inconformado com a perda. Em um dos posts, Edmilson classifica a morte do rapaz como uma "crueldade sem tamanho". Ele se mostra indignado com a violência e com a banalização da vida.

Já no perfil de Saulo, alguns amigos pareciam não acreditar no que havia acontecido. Alguns, ao saberem que o rapaz estava morto, ainda tentavam entrar em contato, em vão, para saber se ele estava bem.

Amigo de Jhony fez um desabafo em seu perfil no Facebook Foto: Reprodução Facebook

 

Amigos de Saulo lamentaram a morte do rapaz em seu perfil na rede social Foto: Reprodução Facebook

Repúdio

O Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos do Espírito Santo (Sindipúblicos) divulgou uma nota, na tarde desta quarta-feira, manifestando indignação pelas "vulneráreis condições de (in) segurança pública a que estão submetidos todos que laboram e utilizam as dependências dos Terminais do Transcol". 

De acordo com o sindicato, é "incompreensível que, mesmo com ocorrências tais como, tráfico de drogas, assaltos, assassinatos e agressões, quase que diariamente noticiadas na imprensa, não sensibilize o poder público, que persiste na política equivocada de optar pela manutenção tão somente da segurança patrimonial, retirando a Polícia Militar".

O Sindipúblicos destaca ainda que o assassinato dos dois jovens no ônibus do Transcol, ocorrido na manhã desta quarta, reforça "que tal opção é inoperante para garantir segurança às milhares de vidas que circulam nesses espaços". Segundo o sindicato, os funcionários da Companhia de Transportes Urbanos da Grande Vitória (Ceturb-GV) já alertaram para o Governo do Estado, em diversos mandatos, sobre a necessidade do retorno da Polícia Militar. Entretanto, segundo o sindicato, "persistem ouvidos moucos".

A nota destaca ainda que "os terminais de integração da Ceturb-GV são espaços públicos merecedores de atenção do 'Estado Presente'". O sindicato finaliza solicitando que sejam imediatamente instalados Destacamentos de Polícia Militar (DPM’s) nos Terminais do Transcol, "entendendo que esta atitude do Governo irá contribuir para diminuir as ocorrências de crimes nestes locais".

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