Polícia

Em depoimento, coronel Ferreira volta a afirmar que não participou do assassinato de Alexandre Martins

O coronel da reserva da Polícia Militar, um dos réus do processo, foi o primeiro a ser ouvido neste sábado, sexto dia do julgamento dos suspeitos de serem os mandantes do crime

Coronel Ferreira voltou a afirmar, durante interrogatório neste sábado, ser inocente da acusação de ser o mandante do assassinato do juiz Alexandre Martins Foto: TV Vitória

Em depoimento neste sábado (29), sexto dia do julgamento dos suspeitos de serem os mandantes do assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, o coronel da reserva da Polícia Militar, Walter Gomes Ferreira, um dos réus do processo, voltou a negar que tenha mandato matar o magistrado. O interrogatório a Ferreira, conduzido pelo juiz Marcelo Soares Cunha, que preside o júri, teve início por volta das 9h30 e se estendeu por parte da tarde.

Assim como declarou à imprensa durante toda a semana de julgamento, o réu tenta provar que o crime não passou de um latrocínio - roubo com morte - contrariando a acusação do Ministério Público Estadual (MPES), que aponta o coronel com um dos mandantes do assassinato do juiz Alexandre. Os outros apontados pelo MPES são o ex-policial civil e empresário, Cláudio Luiz Andrade Baptista, o Calú, que também está sendo julgado, e o juiz aposentado Antônio Leopoldo Teixeira, que ainda não tem previsão para ir a júri.

Após o depoimento de Ferreira, será a vez de Calú ser interrogado pelo juiz Marcelo Soares. O réu foi colocado em uma sala reservada, onde está incomunicável, justamente para não ter conhecimento sobre o conteúdo do depoimento do coronel Ferreira. Por conta da expectativa de que os depoimentos sejam longos, a tendência é que os trabalhos do dia se encerrem ao término do interrogatório de Calú.

Calú é o segundo réu a depor neste sábado, 6º dia do júri Foto: TV Vitória

Com isso, a previsão é que no domingo (30) seja iniciada a fase final do júri popular, com os debates entre defesa e acusação, o que deve durar pelo menos nove horas. Segundo o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), a sentença deve ser conhecida no final da noite do mesmo dia. No entanto, é possível que isso só aconteça na segunda-feira.

Os trabalhos tiveram início na última segunda-feira (24) e até sexta-feira (28) a segurança teve que retirar cinco pessoas que estavam no salão do júri portando indevidamente aparelho celular. É determinação do juiz que ninguém entre no recinto com aparelhos eletrônicos, mesmo que estes estejam desligados. A segurança do júri não tem autorização para guardar telefones e nem bolsas.

O julgamento dos acusados de serem os mandantes do assassinato de Alexandre Martins acontece no Cineteatro da Universidade Vila Velha (UVV), em Boa Vista. Para se ter acesso ao recinto, é preciso retirar uma senha na porta do auditório onde é realizado o júri.

Outros dias

Julgamento ocorre no Cineteatro da UVV, em Boavista Foto: TV Vitória

Nos cinco primeiros dias de julgamento, foram ouvidas as testemunhas arroladas pelo MPES e pelas defesas do coronel Ferreira e de Calu. Também foram lidas peças do processo referente ao assassinato do juiz. No primeiro dia do júri, na segunda-feira, quem prestou depoimento foi o juiz Carlos Eduardo Ribeiro Lemos, que era amigo de Alexandre Martins e trabalhou com o magistrado durante dois anos.

Na terça, foram ouvidos o delegado Danilo Bahiense, chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) na época do assassinato do juiz; o coronel Júlio César Lugato, ex-comandante da Polícia Militar do Espírito Santo; coronel Carlos Augusto de Oliveira Ribeiro, ex-diretor do Clube dos Oficiais; Neucimar Fraga, que era deputado federal e integrou a Comissão de Segurança da Câmara, que teve uma sessão especial sobre a morte de Alexandre Martins; e o coronel Luiz Sérgio Aurich, que foi chefe da Casa Militar. 

Já na quarta, foram ouvidos os dois condenados por executarem o juiz Alexandre: Odessi Martins da Silva, o Lumbrigão, e Giliarde Ferreira. 

Na quinta, as testemunhas foram o delegado André Luiz Cunha, que atuava na Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) na época do crime, e Mauro Juarez Nadvorny, perito criminal especialista em análise de voz, que garantiu que todos os suspeitos de envolvimento no assassinato do juiz disseram a verdade ao afirmarem que o crime foi latrocínio.

E na sexta-feira, a última testemunha de defesa de Calú, o advogado Antônio Franklin Cunha, prestou depoimento por mais de quatro horas. Ele havia sido contratado para atuar como assistente de acusação dos suspeitos de mandarem matar o juiz Alexandre. No entanto, logo no início do processo, Cunha largou o caso e escreveu uma carta, anexada ao processo, afirmando que o crime era um latrocínio.

O crime

Alexandre Martins foi morto em março de 2003 Foto: Divulgação

Alexandre Martins de Castro Filho foi assassinado na porta de uma academia de ginástica em Itapoã, Vila Velha, no dia 24 de março de 2003. Na época, ele comandava investigações contra o crime organizado no Espírito Santo. 

Os acusados de serem executores do crime - Odessi Martins da Silva, o Lumbrigão, e Giliard Ferreira de Souza - foram presos, julgados e condenados a mais de 24 anos de prisão. Também foram condenados, como intermediadores do crime, os sargentos Heber Valêncio e Ranilson Alves da Silva; Fernandes de Oliveira Reis, o "Cabeção"; André Luiz Barbosa Tavares, o "Yoxito"; e Leandro Celestino dos Santos, o "Pardal". 

Durante todos esses anos, o processo se arrastou nos tribunais do Espírito Santo porque, além dos inúmeros recursos apresentados pela defesa dos acusados de serem os mandantes do crime, nove juízes foram considerados impedidos de julgarem o caso. Eles alegaram ter algum tipo de relação com uma das partes - ou réu ou vítima - e, por esse motivo, o julgamento poderia ser considerado sem validade.

O outro apontado pela polícia como mandante do assassinato é o juiz aposentado Antônio Leopoldo Teixeira, que ainda aguarda a tramitação de recursos junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF).

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