JULGAMENTO DO CASO MILENA GOTTARDI

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Caso Milena Gottardi: Bruno diz que passou a desconfiar de crime após passar moto para Dionathas

Apontado pelo Ministério Público como o responsável por conseguir a moto usada no assassinato da médica, o rapaz disse que não perguntou por que o cunhado precisava do veículo e achou que ele seria usado em algum roubo

Rodrigo Araújo , Marcelo Pereira

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Facebook

Acusado como responsável por ceder a moto utilizada no assassinato da médica Milena Gottardi, Bruno Rodrigues Broetto foi interrogado na noite desta sexta-feira (27), durante o júri popular dos seis réus do processo. A oitiva do réu durou pouco mais de uma hora.

Em seu depoimento, ele voltou a afirmar que não sabia que a moto seria usada para matar a médica, assassinada a tiros no estacionamento do Hospital das Clínicas, em Vitória, em setembro de 2017.

Ele confirma que cedeu a moto para Dionathas Alves Vieira, que confessou ter atirado em Milena. Bruno conta que, na época, namorava a irmã de Dionathas e que ouviu um pedido do rapaz, para que ele conseguisse uma moto "errada" — com prestação em aberto ou furtada.

O acusado afirma que, na hora, não perguntou o porquê de Dionathas estar pedindo o veículo, mas desconfiou que poderia ser para algum furto ou roubo. Ele conta que um amigo ligou oferecendo uma moto e lembrou que o cunhado estava precisando de uma.

Bruno disse que entregou a moto a Dionathas no dia 13 de agosto de 2017, mesmo dia em que ela foi furtada. "Quando eu passei a moto para ele, a gente não combinou preço e valores".

O réu conta que, após repassar a moto ao cunhado, o amigo dele o perguntou umas duas vezes sobre o pagamento. Segundo Bruno, Dionathas disse que era para ficar tranquilo, que ele estaria vendendo a moto, passando para frente.

O rapaz disse também que só começou a desconfiar que o veículo seria usado para cometer um assassinato quando percebeu que Dionathas estava se encontrando muito com Valcir da Silva Dias, acusado de ser um dos intermediários do crime.

"Quando ele me pediu a moto, eu não perguntei por quê. Eu só passei a moto para ele. Depois vi que ele estava envolvido com pessoas perigosas. Ele andava muito com o Valcir. Por causa disso, imaginei que era para um homicídio. No dia em que fui na casa do Valcir, ouvi eles falando que um 'serviço' tinha que ser feito", lembra.

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Bruno conta que conheceu Dionathas cerca de três anos antes do crime e sabia que ele já havia se envolvido com roubo. No entanto, garante que não sabia que ele já tinha passagem por homicídio — na ficha criminal de Dionathas, consta que ele tem passagens pela Justiça por roubo, em Ibiraçu, e por um homicídio em Laranja da Terra.

"Ele frequentava a oficina de moto onde eu trabalhava e eu passei a namorar a irmã dele. Ele sempre foi tranquilo, não sabia que tinha passagens. Eu percebi que poderia ser usada num homicídio por causa do convívio do Dionathas com essas pessoas, e por causa dessa vida que ele levava lá com as passagens na polícia por furto. Sabia que ele tinha envolvimento com furto, mas de homicídio não sabia não" afirmou.

Mesmo alegando não ter participação no assassinato de Milena Gottardi, Bruno reconhece que errou ao ceder a moto ao cunhado.

"Hoje eu tenho consciência de que o que fiz foi errado em aceitar essa moto furtada. Minha mãe era responsável pela escola em Fundão onde foi feito o velório de Milena. Ela me falou sobre o crime, que tinha sido em Vitória", contou.

Defesa e acusação comentam interrogatório de Bruno

O advogado Leonardo da Rocha Souza, que defende Bruno e Dionathas no processo, disse que está confiante de que Bruno será inocentado de sua participação no homicídio de Milena.

Foto: Marcelo Pereira / Folha Vitória

"Estou muito feliz e, ao mesmo tempo, muito angustiado, porque o Bruno é inocente. As provas que foram produzidas nesse processo estão claras nesse sentido. Estou bastante esperançoso e confiante de que, com a graça do bom Deus, após as oitivas dos demais acusados, ele saia desse julgamento absolvido e retorne para sua casa", destacou o advogado.

"Quem acompanhou o depoimento do Bruno sentiu verdade no que ele disse. Ele não se negou a responder nenhuma pergunta feita pela acusação, muito menos pelos jurados ou pelo juiz. Esclareceu os fatos e deixou, de forma cristalina, a ausência de todo e qualquer indício mínimo de participação dele nessa trama criminosa", completou.

No entanto, para o promotor de Justiça do Ministério Público Estadual (MPES), Rodrigo Monteiro da Silva, o fato de Bruno não saber que a vítima do homicídio seria Milena Gottardi não tira sua culpa.

Foto: Marcelo Pereira / Folha Vitória

"O Bruno confirma que, de fato, cedeu a moto para a prática de um crime, só que afirma que não sabia que era para matar a doutora Milena. Para nós é irrelevante se ele cedeu a moto para João, Pedro ou a doutora Milena. A questão é que, quando ele cedeu a moto para o Dionathas, ele tinha o dolo. Tinha a intenção e o prévio conhecimento de que a moto seria usada para a prática de um crime de homicídio", frisou.

"Então temos convicção, de acordo com a prova do processo, que conseguiremos obter a condenação de todos os réus. Falar sobre a absolvição de qualquer réu é uma ofensa ao bom senso, uma ofensa à verdade do processo e, inclusive, uma ofensa à inteligência dos jurados", acrescentou o promotor.

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