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Pressão nos hospitais seria menor se ritmo da vacinação fosse mais acelerado, diz especialista

Professor da Ufes também enxerga com preocupação a estratégia do governo estadual de antecipar a imunização dos profissionais da segurança, usando vacinas que seriam utilizadas para aplicações da segunda dose

Foto: Diego Simão/TV Vitória

O Espírito Santo, a exemplo de grande parte dos demais estados brasileiros, tem vivido, nas últimas semanas, seu pior momento em relação à oferta de leitos para o tratamento da covid-19. De acordo com o Painel Ocupação de Leitos Hospitalares, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), 91,65% dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) exclusivos para pacientes infectados pelo coronavírus estavam ocupados até a noite desta quinta-feira (8). 

A ocupação superior aos 90% motivou o governo do Estado a decretar uma quarentena de duas semanas, na tentativa de frear o avanço do vírus, e também resultou na classificação de risco extremo para 37 cidades capixabas, conforme o Mapa de Risco mais recente, que entrou em vigor na última segunda-feira (5).

Enquanto isso, a vacinação segue em ritmo lento, tanto no Espírito Santo quanto no restante do país. Na Grande Vitória, apenas Vila Velha já iniciou o agendamento para que pessoas de 60 a 64 anos recebam a primeira dose do imunizante. Foram abertas 12 mil vagas, nesta quinta-feira (8), para esse público-alvo no município canela-verde. Já Cariacica anunciou que vai começar a vacinar os idosos dessa faixa etária no próximo sábado.

Segundo o Painel da Covid-19, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) distribuiu doses suficientes para vacinar 100% dos idosos com idades entre 65 a 69 anos. Ao todo, 63% das mais de 147 mil pessoas dessa faixa etária já receberam a primeira dose da vacina no Espírito Santo. Já os idosos com mais de 70 anos já estão recebendo a segunda.

Na última segunda-feira (5), durante uma coletiva de imprensa, o subsecretário de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin, afirmou que a Sesa aguardava a chegada de uma nova remessa para avançar com a vacinação. Nesta quinta-feira, mais de 84 mil doses do imunizante chegaram ao Espírito Santo.

"A expectativa em relação à vacina é da remessa desta semana, de vir mais doses. Se essa previsão se confirmar, nós em breve iniciaremos a vacinação da faixa etária de 60 anos ou mais", disse Reblin, na ocasião.

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Para especialistas, a pressão sobre o sistema de saúde no Espírito Santo e nos demais estados brasileiros poderia estar bem menor caso o ritmo da vacinação contra a covid-19 estivesse mais rápido. O professor do Departamento de Imunologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Daniel Gomes, alerta que a demora na distribuição de doses para outros grupos da população contribui para a situação caótica dos hospitais.

"O ritmo é lento não por uma incapacidade dos governos estaduais ou das prefeituras em gerenciar as vacinações, e sim justamente pelo fato de não termos doses disponíveis para acelerar esse processo. Então a vacinação ocorre muito lentamente, de modo a não termos uma interrupção da campanha de vacinação. Acelerar o processo de vacinação e possibilitar que a vacina chegue a outros grupos que vêm sendo afetados é muito importante para a gente poder contribuir para essa diminuição, desafogar o nosso sistema de saúde", destacou.

O estudante de enfermagem Dhener Havel, de 24 anos, acompanha de perto o problema. Ele faz estágio no Hospital das Clínicas de Vitória, que não é referência no tratamento da covid-19, mas atende casos da doença.

Além da preocupação com a própria saúde, Dhener teme pela mãe e pela irmã, que vivem na mesma casa, no bairro Joana Darc, na capital. O rapaz conta que ainda não foi vacinado contra a doença, apesar dos riscos.

"Sempre que eu entro no site das prefeituras, tanto aqui de Vitória quanto de Vila Velha, Cariacica, elas se esgotam muito rápido. Então, por enquanto, eu ainda não consegui tomar nenhuma. Fica complicado a gente estar sempre se expondo sem ter uma seguridade", lamenta.

Antecipação

Enquanto ainda tem profissional da saúde aguardando, a vacinação das forças de segurança foi adiantada no Espírito Santo. Inicialmente, eles serão imunizados com doses que estavam reservadas para completar a imunização de quem já recebeu a primeira. 

Já os profissionais da educação devem ser vacinados a partir do próximo dia 15.

O professor do Departamento de Imunologia da Ufes enxerga com preocupação a estratégia, já que o número de doses enviadas ao estado deixa a desejar, mesmo depois de quase três meses de vacinação.

"Ao lançar mão das vacinas reservadas para a segunda dose, de modo a cobrir mais indivíduos, a gente corre o risco de, por exemplo, no prazo específico de dar o reforço da vacina, nós não termos essa vacina disponível. Isso pode impactar na eficácia, por exemplo, dos indivíduos vacinados inicialmente", alertou.

Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV 

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