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Educação Infantil: entenda o porquê é a fase mais importante

O que é assimilado nessa primeira etapa influencia a personalidade das crianças para o resto da vida

Patrícia Meireles da Silva

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação/Escola Lápis de Cor
Crianças aprendem a socializar, desenvolvem as emoções e habilidades essenciais para a vida

Todo pai ou mãe já se pegou perguntando quando deveria colocar os pequenos na escola. Os medos, dúvidas e a incerteza se ainda é muito cedo ou não são comuns nesse momento. Se você já passou por isso, saiba que seu filho pode e deve entrar na escola o quanto antes!!

A Educação Infantil é dos momentos mais importantes na vida da criança e irá influenciar o desempenho em todas as fases seguintes, além de ser a base para a formação de adultos cidadãos. A escola é o primeiro ambiente que os pequenos tem contato fora de casa e onde irão socializar de forma mais intensa e frequente, sendo a porta de entrada de descobertas de um novo mundo. 

Foto: Divulgação/ Colégio América
As crianças aprendem brincando.

Para especialistas da área de educação e neuropediatras, as crianças estão aptas a entrar ´na escola a partir dos dois anos de idade. "É uma idade onde a criança começa a perceber o outro e a se perceber. Ela começa a entender que é alguém", afirmou a especialista em educação Infantil e diretora de ensino do Colégio América, Mariana Gonçalves.

Mas por que essa fase é tão importante? Por que colocar crianças tão cedo em sala de aula? A resposta para isso está no nosso cérebro! O período chamado de primeira infância, que vai do nascimento do bebê até os seis anos, é quando o cérebro mais se transforma e desenvolve. Cada aprendizado neste espaço de tempo é único e pode definir a personalidade de uma criança de forma permanente. "É o período que o cérebro faz mais sinapses. Cerca de 60% da nossa capacidade cerebral é adquirida até os seis anos. É a fase onde se constrói as relações para a vida", afirmou a especialista em Psicologia do Desenvolvimento Infantil e diretora da Escola Lápis de Cor, Iza Rocha.

Foto: Divulgação/Escola Lápis de Cor
Especialistas aconselham que crianças entrem na escola pelo menos  partir dos 2 anos. 


É evidente o papel da escola no desenvolvimento físico, social, cognitivo e emocional das crianças, tanto que, dependendo das dificuldades dos pequenos, os próprios médicos indicam aos pais que matriculem os filhos. 

"A escola é um dos pilares do neurodesenvolvimento. A criança aprende a conviver com outras crianças, desenvolve habilidades, a maturidade, autoestima, personalidade e a autoconfiança". Explicou o neuropediatra Thiago Gusmão, que trabalha há 13 anos na área.

Gusmão fez uma breve reflexão dos benefícios da educação na vida das crianças. Assista!

Ainda vista por muitas famílias como um local onde as crianças brincam enquanto os pais trabalham, a escola de educação infantil está ganhando mais respeito, conscientizando os responsáveis que toda brincadeira e atividade feita tem um objetivo e fará diferença na vida do aluno. 

"Existem pais que ainda pensam que a escola de educação infantil é uma creche. O foco é aprender com o lúdico. Em uma simples brincadeira no parquinho, por exemplo, o aluno vai aprender a trabalhar em equipe, respeitar o colega e cooperar com os outros. É brincar com propósito" ressaltou o especialista em gestão escolar e diretor da Escola Siena, José Geraldo Gaurink Dias.

A vantagem de aprender nessa fase é o fato das crianças conseguirem desenvolver várias habilidades ao mesmo tempo e as escolas exploram essa capacidade. "Conseguimos abordar todo o desenvolvimento. Os aspectos físicos, a questão do espaço, os aspectos afetivos, a criatividade, a comunicação, além de aumentar o vocabulário e aprender conceitos de cidadania de forma muito natural", pontua a psicopedagoga da Escola Luterana, Alcione Corrente Rocha Martins.  

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Arthur Brandão passou a ter mais autonomia após entrar na escola. 

Mãe do pequeno Arthur Brandão, de 5 anos, a artesã Barbara Chidetti Brandão de Morães, de 31 anos, entende bem a importância da sala de aula. Ela lembra que estudou a vida toda na Escola Luterana e matriculou o filho assim que ele completou 2 anos. "Eu uni o útil ao agradável, é um lugar onde me sinto segura em relação a ele, e sei que ele vai socializar. Arthur ficou muito independente, tem uma responsabilidade social maior que uma criança que não recebe esse auxílio e aprendeu a lidar com as diferenças".

A artesã conta que desde que começou a estudar o pequeno faz questão de fazer tudo sozinho em casa, como ler, tomar banho e cuidar da horta da família. 

A especialista em educação infantil Mariana Gonçalves explica um pouco das habilidades estimuladas nesta fase. Confira!

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Trabalhando as emoções 

Crianças são como esponjas, absorvendo e reproduzindo aquilo que vêem. É pensando nisso que a educação infantil tem focado cada vez mais em trabalhar as emoções nos alunos.  

A inteligência emocional é a capacidade de expressar e compreender as emoções. Essa definição para o termo vem dos psicólogos Salovey e Mayer, que também dividiram essa inteligência em quatro habilidades: Percepção, uso, compreensão e controle das emoções. 

"As escolas, de forma geral, ainda trabalham pouco as emoções. Só trabalhar a emoção quando ela não está acontecendo, não é suficiente. Tentamos trabalhar quando acontece, fazer a criança compreender o que está sentindo e buscar uma forma de se acalmar. É importante lidar com emoções como a raiva, a tristeza, de forma mais tranquila, ensinar a criança que é normal sentir isso" afirma Mariana Gonçalves, diretora de ensino do Colégio América. 

Foto: Divulgação/ Colégio América
Ainda na educação infantil é importante trabalhar as emoções dos alunos. 

Para lidar com emoções, as escolas precisam enxergar o aluno de forma individualizada e entender as necessidades que precisam ser trabalhadas neles, como explica o neurologista Thiago Gusmão. "O foco da escola é trabalhar o emocional, reconhecer as dificuldades da criança. O trabalho de apoio pedagógico, direcionado a essas dificuldades, cativar a autoestima, fará uma diferença brutal no adulto que essa criança irá se tornar". 

Um dos importantes ensinamentos socioemocionais reforçados em sala de aula, é a empatia. "A cooperação é muito importante, além da empatia. A criança precisa aprender a se colocar no lugar do outro. A gratidão, o respeito, a honestidade são as principais habilidades socioemocionais que vão fazer a criança lá no futuro ser mais sociável. Eles precisam entender que não são sozinhos no mundo", pontuou o diretor da Escola Siena, José Geraldo Gaurink Dias.

Os desafios

Os profissionais da área elencaram uma série  de desafios da educação infantil, na visão de cada um deles:

Inclusão:  "É preocupante a inclusão escolar no Brasil, tanto na rede pública quando na privada. A escolas não estão preparadas para receber crianças com autismo e outros transtornos, e trabalhar de forma adaptada o processo educacional dessa criança. Escolas e professores precisam se especializar, porque o número de alunos nessa situação só tende a aumentar" explica o neurologista Thiago Gusmão.

Valorização dos professores: "De forma geral, falta valorização dos profissionais, o reconhecimento da importância deles por parte das famílias e da sociedade. Mais cursos de capacitação, que ainda são caros e pouco acessíveis. A remuneração, principalmente nas escolas públicas e um ambiente de trabalho decente", pontuou a  especialista em Psicologia do Desenvolvimento Infantil, Iza Rocha

Olhar sobre a criança: "o principal desafio é ter um olhar individualizado da criança, para perceber o que ela realmente precisa dentro de um contexto", ressaltou a especialista em educação infantil, Mariana Gonçalves. 

Foto: reprodução pixabay
A educação infantil também enfrenta desafios.

A educação infantil em números 

O último Censo Escolar de 2018, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apontou que de 2014 a 2018 , houve um aumento de 11,1% no número de matrículas na educação infantil. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2017, do IBGE, já havia mostrado que o país caminhava para a universalização do acesso a pré-escola, fato que foi confirmado pelo Censo Escolar, que revelou que o alcance do atendimento na faixa etária de 4 e 5 anos, está em 91,7%.  

Sobre a quantidade de crianças matriculadas, de acordo com o suplemento  Educação da Pnad Contínua 2017,  das crianças com até 3 anos no Brasil, apenas 32, 7% frequentam creches. Dentre as crianças que não frequentam, 53,0% são porque os pais simplesmente não querem, o que reforça a preocupação das escolas em conscientizar as famílias sobre a necessidade da educação infantil. 




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